quarta-feira, 28 de março de 2018

E ainda resta um homem. (desamparo)



Ver o amor despido, feio como um interesse qualquer... Descobrir o amor infame, chantagem de um para outro. Ver o amor, possessividade bem vestida,  aguardando mais que a reciprocidade, a escravidão alheia... Permanecer de pé com o amor caído do desequilíbrio da nossa cabeça, quebrado no chão áspero, pisar seus cacos... cortar-me de joelhos...  Estancar meu sangue, fechar meus olhos, sentir que o amor houvera sempre mentido! Descobrir-se sozinho na meia-idade, ante uma juventude alheia, que não sabe o que é desesperança, e se crê protegida e distante da morte. Não sabe o que é isto no grau em que vivo isto. Ter inveja da sua ignorância! Ter inveja da sua crença estúpida! E ter maior, sobretudo, inveja das coisas que não vivem. Agradecer a Deus a mimese de morte que  é o sono, e O vilipendiarmos todas as vezes que acordamos!

quarta-feira, 21 de março de 2018

Todas as ideologias que separam os homens e fragmentam a humanidade impedindo-a de lutar com a plenitude de sua força contra o mal comum ou mesmo impedindo-a de discernir este mal, possuem apenas na promessa o futuro melhor, o que de fato produzem é o pior presente.

MALEGOÍSTA

escala a si mesma e crava uma bandeira no pico pra dizer que se conquistou

urina em si mesma para marcar seu território

declama sua soberania ante você-crédulo-povoado-sem-chance-de-se-opor

você é muito populosa de si.

prega xenofobia em suas aulas de decência!

terá medo de gostar dos estrangeiros?


sexta-feira, 16 de março de 2018

DEGELO

ó, desejo! ó, solidão! confundes então uma pedra de gelo com uma pérola?
se apertas na mão, arde, a pedra diminui e se esvai...
abra estas mãos molhadas e olha...
não há nada!

ou serão lágrimas tuas?
será dor liquefeita?

aah desejo teimoso!
insistes em gostar de tua crença por não suportar a realidade 
não queres te levantar da cama em que sonhavas!
desapega, a pedra não te amava!

olha as mãos vazias!
logo estarão secas...

será preciso repetir sempre a ti
para que consigas engolir esta secura:

"ela não era uma pérola,
mas uma pedra de gelo!

precisava da distância que esfriava
e do escuro que omitia...
levaste ao sol...

siga de mãos vazias!"



sexta-feira, 9 de março de 2018

NA CIFRA




os homens que vingam - como quaisquer outros bichos
- são perversos
como filhotes de pássaros 
que derrubam o irmão do ninho
para se deixarem sozinhos com as minhocas

a diferença é que o instrumento não é a garra ou o bico...
mas a cifra.





quinta-feira, 8 de março de 2018

Que serenidade se temos todos um trabalho louco começando amanhã bem cedo?

Percepção do tempo

Acabou a cidade
A casa está se acabando
A mãe está se acabando
Estou ficando só

Estou na mão desta gente
Que se importa tanto consigo
Quanto eu me importo comigo

Se isso não é de dar medo...
Estou sendo transferido de um colo
para mão dessa galera que se diverte comigo
como se eu fosse a bola

Até que me enterrem na cesta
da morte


quarta-feira, 7 de março de 2018

Na falta

O mais triste de voltar meus pais da morte seria eu ter de senti-los morrer de novo.
Assim - mas muito pior - como quando sonhava com eles e depois acordava.

O mais triste de voltar para meus amores
seria se eu tivesse de perdê-los de novo...

Por isso há amores quais nunca deixo
Apesar deles irem.

O espaço mais largo para amar
é na falta.

Um enorme deserto.

Os alienados

Pense! Se não fossem os alienados quem começaria letras na terra triste dos números?
Quem chamaria por seu nome em vez de uma senha, um cpf, por sua nota escolar, por sua faixa etária...?
Se não fossem os alienados quem traria paz para os tolos que se vêem opostos?

Se não fossem os alienados, pense!
Se você não é alienado será que poderá pensar em você acaso você não esteja em pauta?

Os alienados são os eternos malditos!
Os condenados por se entregarem ao que sentem ante cartolinas, ante o estardalhaço das coisas que se gritam mais importantes do que coisas.

Você que está por dentro pode ser que esteja preso.
E nem desconfia que a chave esteja com alguém que está por fora!

A noite pesa

Não fique acordada à noite, menina!
A fragilidade orquestra a sinfonia da tristeza:
Um amor antigo toca uma trompa no fundo do palco da memória.
Quantos amores impossíveis tocam lá na frente as flautas?
Quantos estridentes violinos assumem nossas faltas?
A angústia arranha como um Cello com nosso peito de bojo!
Uma soprano atinge o ápice agudo na palavra morte.

Durma cedo, pequenina!
O Sol é o maestro dos passarinhos!