terça-feira, 13 de dezembro de 2016

ter

ter na mente a própria cerca
ter no pé o impróprio chão
sede e fome por motor  
e água e pão só na visão

só o sonho alimentado
vem me dar satisfação
a morrer feito objeto
está sujeito o cidadão


ter o peito contrafeito
ter os braços penhorados
ter em falta a própria mão

ter um rei por deus eleito
deles ser subordinados
e deles ter desatenção

ter num olho um campo vasto
como um boi arando um pasto
de uma alheia plantação

e contra o corpo o rito casto
martelando um verbo gasto
prega resignação



segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

IRONIA

aprender o melhor da solidão no convívio com os outros.                                

UM SENTIMENTO

o capitalismo perdeu a graça. não é uma questão de lógica, de cálculos, de ser vantajoso ou superior a outros sistemas utópicos. é muito tempo vivendo nisto! é já não olhar bem a cara do outro esperando o lucro! não tenho outra coisa a sugerir, meus amigos! não tenho uma solução... é um sentimento! que fazer quando algo se trata de um sentimento? contra-argumentá-lo com que lágrimas verdadeiras ou risos sarcásticos?  me convidam para um réveillon a R$ 150,00 por pessoa. há vírgulas entre números. cifras em que se pensar antes de um prazer. parece que já levam em conta que estamos sem saída, sem amigos, que a cidade é isto mesmo: um funil que vai dar em pelo menos isto! pelo menos posso! pelo menos tenho! pelo menos... qualquer coisa exclamada com orgulho! preveem, estes comerciantes, escorando o queixo no punho sustentado pelo cotovelo escorado no balcão, as portas arriadas em prata pra dentro e pra fora, não mares! não cantigas! não moças bonitas de chinelo e sainhas recém saídas de portões que deixarão suas gravuras em nossas memórias! não pensam mesmo - "Que doido!" - penso com voz de menino que grita - outras hipóteses de levarem a vida, mas preveem que já não temos amigos ou deles e de suas propostas, se somos ajuizados contemporâneos, devemos é estar cansados. R$ 150,00, e sou ejaculado em perguntar: que será melhor: estar entre amigos ou garçons? não penso se é caro ou barato! penso num homem pensando se isto dava lucro, luzes do comércio apagadas,  consumindo seu tempo com este pequeno banco de dados de calcular rentabilidades! colchões afundando no peso disto! ele sequencia, ele gera coesão entre essas duas frases: "R$ 150,00", "meu amor!". e "seu amor" está lá dentro, na cozinha do estabelecimento, lavando os copos de um hoje (fomos até tarde! - voz de um garçom prum taxista inédito) pouco lucrativo! "R$ 150,00 por pessoa", ele pensa se isto dá lucro. "lucro pra todos!" dirá num anúncio brilhante! como gostam de dizer os promotores: "ninguém leva prejuízo! todos ganham!" não há mistério, primeiramente! mas não queremos um engano justamente por que é capitalismo? o chato é ter de, com este convite, não pensar nada novo, apenas uma velha minha poesia parafraseada por mim mesmo: chegamos a um tempo tão  miserável, que tudo que podíamos fazer pelo outro era pagar. e tudo que podíamos fazer por nós mesmos era economia. é um sentimento, meu amigo! não me venha com fatos, não há fatos contra sentimentos! são eles que buscamos, são eles que protegemos! são eles um fim! não foi sua arte ou a minha que perdeu o valor por não ter valor monetário, amigo! foi o capitalismo que não achou outro valor além desse!

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

ele diz: quando você chegar onde você quer, não esquece de onde você veio.

eu respondo risonho: eu acho é que já passei de onde eu queria!


diz: as pessoas aqui perguntam por você.

eu respondo: diga a eles que agora posso ser só o que eles quiserem.


quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

chegamos àquele ponto
em que a lucidez sobrepôs o encanto
e fomos viver
cada qual
no seu canto
e os outros nos deram suas caras de espanto
que era saber pouco do que lhes parecia tanto

em louvor aos suicidas

a gente tem mania de pensar que quando a gente sofre há algo errado. a gente sempre pensa em culpados. em santos! em pessoas de mal! a gente tende a criar esses polos, porque a gente sofre. a gente nunca para pra pensar que sofrer pode ser uma lei da vida, pode ser fundamental, natural, acidental. a gente parece que quer sempre apontar uma arma pro dentista, pro vendedor, pro empresário, pro ateu, pro político, pro doutor, pro pobre, pro branco, pro policial, pro negro, pra mulher, pro gay, pro negro, pro pastor, pro negro, pro negro, pro negro. pro negro gay e pobre. mais um disparo na cabeça, pra confirmar que ele já não se mexe... a gente tá sempre pronto pra apertar um gatilho e disparar um cartucho repleto do mais explosivo: a vergonha de serem o que não somos.

pra mim quem não usa drogas pra viver é maluco.

ansiedade

agora terei de esperar alguns anos, que devem demorar horas!