sábado, 26 de novembro de 2016

terça-feira, 22 de novembro de 2016

OPINIÃO IMPRÓPRIA

enquanto só vemos a realidade que nos dão pra ruminar, enquanto nosso discernimento só serve à nossa separação, só de estarmos todos sós é feita nossa união.  desconfio das cabeças com uma própria opinião quando os pés de quem opina não pisam um próprio chão. 

domingo, 20 de novembro de 2016

SENSATEZ

...não era apenas não ter para onde ir por falta de bens ou outros recursos. era não querer fazer mais nada em troca de nada lidando com os homens, nem mesmo com a minha família, eu não queria pedir que me ajudassem, não queria falar com meus irmãos, não queria vender uma casa (já havia não recebido pela venda de uma), não queria lhes vender meu trabalho, não queria ter de lhes cobrar ou mesmo esperar algo em troca, não queria ensiná-los a tocar um violão, não queria assinar um contrato, não queria sonhar com eles, nem lhes dar as mãos, nem mesmo numa cirandinha, nem queria mais lhes dizer o significado de uma palavra, não queria encontrá-los, não queria ajudá-los ou me fazer de ajudante de um mundo melhor; na verdade, eu já não tinha esperança em compartilhar com eles uma música, uma poesia... repreendia-me até mesmo o hábito de imaginá-los, de lhes dar uma informação de rua, de trocar algumas palavras mais... nem sei como eu ainda conseguia lhes dar "bom dia!", bem, acho que assim eles me notavam menos! era por isso que eu escrevia livros, e não cartas: só conseguia acreditar um pouco em gente distante que eu sequer podia imaginar, desconhecida, talvez do futuro ou... talvez as pessoas sensatas tivessem arranjado já algum jeito de cair fora de tudo isso! mesmo que esse jeito fosse a loucura ou a morte! certamente! não havia nem mesmo um endereço de amigo ou de lugar que me admitisse ir, apesar de tanta gente simpática! tudo que eu queria era estar longe deles, mas não havia fuga física, o silêncio de um corpo os inquietava. para manter a distância, havia apenas palavras e dinheiro. talvez eu estivesse doente, mas eu não queria ir ao médico! a doença era tudo que me restava, e eu a chamava de "sensatez".

sábado, 19 de novembro de 2016

A verdade não precisa de crentes. A civilização, sim!

A RESPONSABILIDADE

Responsabilidade é algo referente a um todo que não podemos fazer responder, sequer compreender. Que o homem a assuma é sua maior ousadia, uma vez que ela jamais poderá ser individual em nenhuma circunstância. Exatamente porque sempre deverão haver circunstâncias. Assemelhar a responsabilidade à verdade é tarefa do orgulho humano, em que este se encontra debruçado por milênios. Que responsabilizemos e falemos em indivíduos "culpados e inocentes" ou "bons e maus" nada tem a ver com uma "realidade" descoberta, mas com uma "realidade inventada", uma espécie de utopia que precisa ser defendida, tal como: "liberdade, justiça...", em outras palavras, trata-se de fomentar uma crença conveniente. Muitos pensadores se gastam agora nesta defesa: "O homem é responsável, e quem pensa diferente é canalha!"; "Quem pensa assim... Não dá nem para conversar!"; "Eu não sou uma alface!"... É claro que, neste caso, eles ainda não têm inclinação para discernir uma "Necessidade Funcional", uma "Utilidade Civilizatória" de "Verdade". Como? Não sabem que muitas mentiras - inclusas as cotidianas individuais, as gentilezas, os dogmas etc. - são necessárias à construção e à manutenção do que chamamos "civilização"?! No fundo, tais pensadores, como investigadores, são antes anedotas. No entanto, não sejamos cruéis para com eles, como se fossem responsáveis pelo que dizem. Fato é que se empenharam e continuam se empenhando em serem úteis à sociedade, natural que esperem o troco. Nisto são como a "responsabilidade": útil, necessária, mas em hipótese alguma verdadeira.

ele já possuía os principais ingredientes para a grande tragédia : um grande prazer em viver e algumas esperanças.

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

ALEGORIAS E ADEREÇOS

o traje a rigor do rancor é pena

escrever é a cela em que exercito minha máxima liberdade

eu conversava muito com a moça
e como uma dor com que se acostuma
ou como um amor que se consome
a minha voz foi entrando em sintonia com que era tédio
as palavras minhas já não carregavam no colo um sujeito novo
eram bengalas de um velho batucando em sua piedade

em certa altura da evolução, o que ascende da ameba supera o que descende de Deus.

eu gosto dos homens que cabem na roupa, são como manequins por quem passo. mas eu mesmo tenho o destino de ir do que quer que eu seja. e as roupas, parece-me, não tem cabimento!

as pupilas semicerradas, metade vendo com os olhos; outra, com sentimento

em que a responsabilidade se divide, se multiplica a negligência.

co-habitante

em mim, este sedento, mora outro, satisfeito, entediado. ele não gosta de comida, de música, de sexo, não pensa poesia. as palavras são presentes, não têm passado, não vão em frente. não substituem o silêncio, são interagentes.

Duas cabeças se confundem mais que uma.

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

esta ambição de ser importante pra sociedade só é menor que aquela de ser inútil pra ela.

EXCESSO

- suspeito que nossa psiquê seja este labirinto em que consumimos nossa inércia. podemos viver com muito menos conceitos e ideias, com muito menos atividade cerebral... a utilidade aí não parece ser nossa, e nos faz engendrar que sirva então a um ser vindouro como uma espécie de ferramenta aprimorada. o pensamento, este é o nosso excedente! ainda não sabemos como utilizar, como aproveitar, em que trilhos colocar este potencial, o pensamento ocupa-se de coisas vãs... tolas...  atrapalha inclusive o sono. nossas atividades mentais em larga escala não são em nada primordiais para sobrevivermos. é como se o cérebro sobrasse... e porque há esta sobra é que somos humanos. se algum dia nossa alma já não for um excesso, digo, se ela se ocupar como um órgão vital ou se tornar útil como nossas mãos, nossas pernas, nossos pés... seremos tão automáticos e objetivos quanto um organismo em que tudo se emprega fundamentalmente para o florescimento da vida, talvez como uma planta... talvez quando nossa alma se tornar fundamental peça à capacidade de vivermos, de saúde, outras partes de nosso corpo se tornem excedentes, supérfluas. tornem-se heranças de um ancestral ultrapassado. é possível que membros úteis para o homem atrofiem e sejam amputados como o rabo de um animal doméstico... por enquanto, esta suspeita aqui registrada, entre tantas outras coisas, não passa do produto deste excesso.

terça-feira, 8 de novembro de 2016

tez clara - DA SÉRIE COISAS OBSCENAS

- Merda! Qual o nome daquela atriz pornô? Estive com ela esta semana, digo, numa gozada qualquer. Uma pequeninha, cabelos finos, longos, pretos, tez clara...

- Sei não!

-Putz, cara! Esqueci o nome dela. Agora ela vai pensar que não era amor!

(hUgO PeLLeRa)

SUJEITOBJETO

Carlos comprou roupas.
Roupas atraem Carlos.
O frio faz as roupas atraírem Carlos.
Uma costureirinha pobre fez estas roupas no norte.
A fome e a cooperativa fizeram-na costurar.
O amarelo das roupas agrada Carlos
A cultura disse-lhe: representa ouro
A ciência disse-lhe da importância do Sol
A arte diz que o amarelo é quente.
Carlos quer se vestir de vivaz agente.
Nem mesmo querendo, ele quer somente.

Um elogio não deve intensidade, mas verossimilhança.

mal-entendido


ninguém sabe sob que pressão as palavras saem. ninguém sabe o tom, tampouco os pontos afirmam o jeito. dos sentimentos ninguém sabe aqueles que vazam e os que ficam no peito. o que interpretam e não me leva é o quanto fico insatisfeito.

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

EU JÁ SABIA

Olha, Laura, claro que fui descendo a rua de nossa separação cabisbaixo. E se descia é porque vinha despencando do auge de alguma euforia. Na verdade pode ser que a rua subia! Estava tão em mim, nem sei lhe dizer se chovia naquele... dia? Ah, aquele momento me fez um sujeito sem cenário, pisando ideias tantas... Palco de que seria? Lembro agora, flagrando meu engano, que eu pensava que você chegaria por trás, colocaria a mão no meu ombro e me pediria pra voltar... Ia por ali por aquela rua de ir, que em certa altura ainda poderia ser a rua de um resgate. Porta batida, virá Laura atrás de mim? Cada passo me encaminhava mais ainda pro "nada valho!", aumentando a distância de ti e as impossibilidades de minhas fantasias. E as ideias tantas numa verdadeira algaravia! Pensava também que você não viria, tardava um próximo passo de ir, mas meu orgulho tornava a pisar adiante. Quiçá eu parecesse um bêbado pra quem via. Transeuntes outros, que me causassem algum pejo de existir, havia? Não sei se entrava num beco sem saída, numa rotatória, numa rodovia... Imaginei nas minhas costas você vindo, mas tive pudor, medo também, de olhar para trás e redundar uma indiferença da realidade na rua vazia. Esperava só o peso de sua mão morna em meu ombro. Ah, a rua vazia... Terei olhado e visto ou só com ouvidos na ausência dos seus passos percebia? Esta indiferença que na vida eu tão bem conhecia! Desde mais moço, quando, "praia programada", chovia! Tanto imaginei, que deixei pouca possibilidade para as surpresas. Tudo eu previa naqueles meus passos sem destino. Inventava coisas além do abandono que cada vez mais se estabelecia. De maneira que qualquer coisa que acontecesse arrancaria de mim: "Eu já sabia!" Ah, Laura, a solidão, um pouco, nos acrescenta uma quase onisciência inútil à alegria: a consciência dolorosa das possibilidades que não acontecem.

Nota.

 não julgar moralmente o sistema, o julgamento moral pertence ao sistema.

terça-feira, 1 de novembro de 2016

- Os mais ambiciosos se põem do lado dos derrotados.

HOMEM SIMPLES

- A gente só precisa de um pouco de verdade, moço Deus, para saber quão mais belas são as nossas mentiras!
será que conheço uma história de dois humanos que partiram em busca da verdade e acabaram se matando antes do fim? será que conheço uma história em que outros dois partiram em busca da beleza e se abraçaram no fim? eu não lembro direito! não sei se conheço... eu tenho de escolher em qual acreditar?
Quando Laura foi amada a primeira vez, é que ela descobriu ter espírito. Aquelas coisas que ela ouvia declamadas por seu amante pareciam tão mais belas do que ela mesma ante ela nua ante o espelho, que Laura começou a querer sair de si e se transformar naqueles significados. É! É assim que ela vai acabar morrendo!

tenho a impressão de que...

...quando Deus escreveu "david e golias", Ele se esqueceu de dizer que era uma obra para os pequenos.

venci várias derrotas. coisa que os invictos perderam.

EM CERTA ALTURA DO CAMINHO DESERTO

a moça disse assim:

- mas será a realidade isto?

eu respondi:

- mas também, o que que a gente tá fazendo atrás da verdade? vamos atrás da beleza que o caminho fica mais bonito!

- a verdade me promete um grande poder.

e eu disse com sinceridade, dando meia volta:

- então vai, feia!


Querida, fico tímido como um derrotado quando mais se faz o ânimo dos interlocutores. 

Não só evito enfiar palavras apertadas em suas discussões febris, como pouco me 

movimento, senão para longe. Que gritem em alto-falantes! Tenho que toda febre é sinal 

de doença! Estes antagonismos entusiasmados me remetem, mais que ao passado, a 

“tempo perdido”. Se moveram algo os calorosos bate-bocas “pela Verdade”, fossem de 

bêbados, religiosos ou doutores em filosofia, foram meus olhos de soslaio. O que de 

Verdade se procura com armas empunhadas? O que de Verdade aparece quando se 

mente desde a intenção? Nada! E quem diz “Não!” faz “Sim!”, como os demais, pois tão 

só quer uma Vitória na Verdade. Vitória às Vaidades! Não os vaio pelas pautas 

recortadas dos jornais que evitam falarem de si mesmos, tão vergonhosos seriam sem 

essas veleidades! Todos os dias algo novo para se tratar com cuidado. O mesmo 

cuidado que jogou “Ontem” no lixo! Não os vaio, tampouco atiro ovos. Apenas deserdo. 

Uma verdade que me tem então, mais simples, acha muito feia suas fantasias 

sofisticadas. Apenas deserdo, e parece que levo todo alheio constrangimento: se me 

enxergam à saída, gritam enxovalhos. Exigem ser amados. Pudera! Não lhes resta 

nada, nenhum autoflagra. Eles continuam, querida, tão fingidos crentes. Já não pasmo! 

Minto alguma urgência se me reparam em retirada; eu, justo eu, que por prazer vou ao 

teatro. Ficaria, fosse a minha ver da humanidade este milenar e cansado espetáculo. 

Sim, milênios e não perceberam, milênios mais e não perceberão, tão ocupados em seus 

papéis, que a Vitória, tampouco a Verdade, pode ser só uma e objeto de posse. Antes, a 

Verdade nos tem com total indiferença. Eu, justo eu que um abraço lhes daria, dei-lhes 

as costas e ouvi cochicharem: “Vencemos! Aquele ficou sem palavras!”; “Correu, não 

suportou tal e qual argumento!”, não retruquei; deixei estes monótonos inventarem em 

meu desprezo a sua Vitória; como lhe dizia, é de Vencer qualquer coisa que carecem, 

mendigam uma sensação - artificial que seja - de Vitória. Esta e/ou outra dose pouca de 

verdade os mataria. Não surpreende que de nosso silêncio e de tudo que nele há dito se 

vinguem em chacotas. Querida, deixe-lhes como fétidos indigentes. Entre quais se não 

pode ser contente, se dê ou negue a esmola.