razão também tem quem luta pra perdê-la! Iscas para almas. Realização do projeto de fazer propostas. Quase uma coisa no lugar de tentativas. Lembretes do desapercebido. Refinaria de gritos.
sexta-feira, 30 de dezembro de 2016
segunda-feira, 26 de dezembro de 2016
segunda-feira, 19 de dezembro de 2016
"quero reencontra-la para um abraço que sempre carrego comigo."
- Rubens Guilherme Pesenti em www.textosimprovaveis.blogspot.com - Pensando em Jô.
terça-feira, 13 de dezembro de 2016
ter
ter na mente a própria cerca
ter no pé o impróprio chão
sede e fome por motor
e água e pão só na visão
só o sonho alimentado
vem me dar satisfação
a morrer feito objeto
está sujeito o cidadão
ter o peito contrafeito
ter os braços penhorados
ter em falta a própria mão
ter um rei por deus eleito
deles ser subordinados
e deles ter desatenção
ter num olho um campo vasto
como um boi arando um pasto
de uma alheia plantação
e contra o corpo o rito casto
martelando um verbo gasto
prega resignação
ter no pé o impróprio chão
sede e fome por motor
e água e pão só na visão
só o sonho alimentado
vem me dar satisfação
a morrer feito objeto
está sujeito o cidadão
ter o peito contrafeito
ter os braços penhorados
ter em falta a própria mão
ter um rei por deus eleito
deles ser subordinados
e deles ter desatenção
ter num olho um campo vasto
como um boi arando um pasto
de uma alheia plantação
e contra o corpo o rito casto
martelando um verbo gasto
prega resignação
segunda-feira, 12 de dezembro de 2016
UM SENTIMENTO
o capitalismo perdeu a graça. não é uma questão de lógica, de cálculos, de ser vantajoso ou superior a outros sistemas utópicos. é muito tempo vivendo nisto! é já não olhar bem a cara do outro esperando o lucro! não tenho outra coisa a sugerir, meus amigos! não tenho uma solução... é um sentimento! que fazer quando algo se trata de um sentimento? contra-argumentá-lo com que lágrimas verdadeiras ou risos sarcásticos? me convidam para um réveillon a R$ 150,00 por pessoa. há vírgulas entre números. cifras em que se pensar antes de um prazer. parece que já levam em conta que estamos sem saída, sem amigos, que a cidade é isto mesmo: um funil que vai dar em pelo menos isto! pelo menos posso! pelo menos tenho! pelo menos... qualquer coisa exclamada com orgulho! preveem, estes comerciantes, escorando o queixo no punho sustentado pelo cotovelo escorado no balcão, as portas arriadas em prata pra dentro e pra fora, não mares! não cantigas! não moças bonitas de chinelo e sainhas recém saídas de portões que deixarão suas gravuras em nossas memórias! não pensam mesmo - "Que doido!" - penso com voz de menino que grita - outras hipóteses de levarem a vida, mas preveem que já não temos amigos ou deles e de suas propostas, se somos ajuizados contemporâneos, devemos é estar cansados. R$ 150,00, e sou ejaculado em perguntar: que será melhor: estar entre amigos ou garçons? não penso se é caro ou barato! penso num homem pensando se isto dava lucro, luzes do comércio apagadas, consumindo seu tempo com este pequeno banco de dados de calcular rentabilidades! colchões afundando no peso disto! ele sequencia, ele gera coesão entre essas duas frases: "R$ 150,00", "meu amor!". e "seu amor" está lá dentro, na cozinha do estabelecimento, lavando os copos de um hoje (fomos até tarde! - voz de um garçom prum taxista inédito) pouco lucrativo! "R$ 150,00 por pessoa", ele pensa se isto dá lucro. "lucro pra todos!" dirá num anúncio brilhante! como gostam de dizer os promotores: "ninguém leva prejuízo! todos ganham!" não há mistério, primeiramente! mas não queremos um engano justamente por que é capitalismo? o chato é ter de, com este convite, não pensar nada novo, apenas uma velha minha poesia parafraseada por mim mesmo: chegamos a um tempo tão miserável, que tudo que podíamos fazer pelo outro era pagar. e tudo que podíamos fazer por nós mesmos era economia. é um sentimento, meu amigo! não me venha com fatos, não há fatos contra sentimentos! são eles que buscamos, são eles que protegemos! são eles um fim! não foi sua arte ou a minha que perdeu o valor por não ter valor monetário, amigo! foi o capitalismo que não achou outro valor além desse!
quarta-feira, 7 de dezembro de 2016
quinta-feira, 1 de dezembro de 2016
em louvor aos suicidas
a gente tem mania de pensar que quando a gente sofre há algo errado. a gente sempre pensa em culpados. em santos! em pessoas de mal! a gente tende a criar esses polos, porque a gente sofre. a gente nunca para pra pensar que sofrer pode ser uma lei da vida, pode ser fundamental, natural, acidental. a gente parece que quer sempre apontar uma arma pro dentista, pro vendedor, pro empresário, pro ateu, pro político, pro doutor, pro pobre, pro branco, pro policial, pro negro, pra mulher, pro gay, pro negro, pro pastor, pro negro, pro negro, pro negro. pro negro gay e pobre. mais um disparo na cabeça, pra confirmar que ele já não se mexe... a gente tá sempre pronto pra apertar um gatilho e disparar um cartucho repleto do mais explosivo: a vergonha de serem o que não somos.
quarta-feira, 30 de novembro de 2016
domingo, 27 de novembro de 2016
sábado, 26 de novembro de 2016
quarta-feira, 23 de novembro de 2016
terça-feira, 22 de novembro de 2016
OPINIÃO IMPRÓPRIA
enquanto só vemos a realidade que nos dão pra ruminar, enquanto nosso discernimento só serve à nossa separação, só de estarmos todos sós é feita nossa união. desconfio das cabeças com uma própria opinião quando os pés de quem opina não pisam um próprio chão.
domingo, 20 de novembro de 2016
SENSATEZ
...não era apenas não ter para onde ir por falta de bens ou outros recursos. era não querer fazer mais nada em troca de nada lidando com os homens, nem mesmo com a minha família, eu não queria pedir que me ajudassem, não queria falar com meus irmãos, não queria vender uma casa (já havia não recebido pela venda de uma), não queria lhes vender meu trabalho, não queria ter de lhes cobrar ou mesmo esperar algo em troca, não queria ensiná-los a tocar um violão, não queria assinar um contrato, não queria sonhar com eles, nem lhes dar as mãos, nem mesmo numa cirandinha, nem queria mais lhes dizer o significado de uma palavra, não queria encontrá-los, não queria ajudá-los ou me fazer de ajudante de um mundo melhor; na verdade, eu já não tinha esperança em compartilhar com eles uma música, uma poesia... repreendia-me até mesmo o hábito de imaginá-los, de lhes dar uma informação de rua, de trocar algumas palavras mais... nem sei como eu ainda conseguia lhes dar "bom dia!", bem, acho que assim eles me notavam menos! era por isso que eu escrevia livros, e não cartas: só conseguia acreditar um pouco em gente distante que eu sequer podia imaginar, desconhecida, talvez do futuro ou... talvez as pessoas sensatas tivessem arranjado já algum jeito de cair fora de tudo isso! mesmo que esse jeito fosse a loucura ou a morte! certamente! não havia nem mesmo um endereço de amigo ou de lugar que me admitisse ir, apesar de tanta gente simpática! tudo que eu queria era estar longe deles, mas não havia fuga física, o silêncio de um corpo os inquietava. para manter a distância, havia apenas palavras e dinheiro. talvez eu estivesse doente, mas eu não queria ir ao médico! a doença era tudo que me restava, e eu a chamava de "sensatez".
sábado, 19 de novembro de 2016
A RESPONSABILIDADE
Responsabilidade é algo referente a um todo que não podemos fazer responder, sequer compreender. Que o homem a assuma é sua maior ousadia, uma vez que ela jamais poderá ser individual em nenhuma circunstância. Exatamente porque sempre deverão haver circunstâncias. Assemelhar a responsabilidade à verdade é tarefa do orgulho humano, em que este se encontra debruçado por milênios. Que responsabilizemos e falemos em indivíduos "culpados e inocentes" ou "bons e maus" nada tem a ver com uma "realidade" descoberta, mas com uma "realidade inventada", uma espécie de utopia que precisa ser defendida, tal como: "liberdade, justiça...", em outras palavras, trata-se de fomentar uma crença conveniente. Muitos pensadores se gastam agora nesta defesa: "O homem é responsável, e quem pensa diferente é canalha!"; "Quem pensa assim... Não dá nem para conversar!"; "Eu não sou uma alface!"... É claro que, neste caso, eles ainda não têm inclinação para discernir uma "Necessidade Funcional", uma "Utilidade Civilizatória" de "Verdade". Como? Não sabem que muitas mentiras - inclusas as cotidianas individuais, as gentilezas, os dogmas etc. - são necessárias à construção e à manutenção do que chamamos "civilização"?! No fundo, tais pensadores, como investigadores, são antes anedotas. No entanto, não sejamos cruéis para com eles, como se fossem responsáveis pelo que dizem. Fato é que se empenharam e continuam se empenhando em serem úteis à sociedade, natural que esperem o troco. Nisto são como a "responsabilidade": útil, necessária, mas em hipótese alguma verdadeira.
quinta-feira, 17 de novembro de 2016
co-habitante
em mim, este sedento, mora outro, satisfeito, entediado. ele não gosta de comida, de música, de sexo, não pensa poesia. as palavras são presentes, não têm passado, não vão em frente. não substituem o silêncio, são interagentes.
quarta-feira, 16 de novembro de 2016
EXCESSO
- suspeito que nossa psiquê seja este labirinto em que consumimos nossa inércia. podemos viver com muito menos conceitos e ideias, com muito menos atividade cerebral... a utilidade aí não parece ser nossa, e nos faz engendrar que sirva então a um ser vindouro como uma espécie de ferramenta aprimorada. o pensamento, este é o nosso excedente! ainda não sabemos como utilizar, como aproveitar, em que trilhos colocar este potencial, o pensamento ocupa-se de coisas vãs... tolas... atrapalha inclusive o sono. nossas atividades mentais em larga escala não são em nada primordiais para sobrevivermos. é como se o cérebro sobrasse... e porque há esta sobra é que somos humanos. se algum dia nossa alma já não for um excesso, digo, se ela se ocupar como um órgão vital ou se tornar útil como nossas mãos, nossas pernas, nossos pés... seremos tão automáticos e objetivos quanto um organismo em que tudo se emprega fundamentalmente para o florescimento da vida, talvez como uma planta... talvez quando nossa alma se tornar fundamental peça à capacidade de vivermos, de saúde, outras partes de nosso corpo se tornem excedentes, supérfluas. tornem-se heranças de um ancestral ultrapassado. é possível que membros úteis para o homem atrofiem e sejam amputados como o rabo de um animal doméstico... por enquanto, esta suspeita aqui registrada, entre tantas outras coisas, não passa do produto deste excesso.
quinta-feira, 10 de novembro de 2016
terça-feira, 8 de novembro de 2016
tez clara - DA SÉRIE COISAS OBSCENAS
- Merda! Qual o nome daquela atriz pornô? Estive com ela esta semana, digo, numa gozada qualquer. Uma pequeninha, cabelos finos, longos, pretos, tez clara...
- Sei não!
-Putz, cara! Esqueci o nome dela. Agora ela vai pensar que não era amor!
(hUgO PeLLeRa)
- Sei não!
-Putz, cara! Esqueci o nome dela. Agora ela vai pensar que não era amor!
(hUgO PeLLeRa)
SUJEITOBJETO
Carlos comprou roupas.
Roupas atraem Carlos.
O frio faz as roupas atraírem Carlos.
Uma costureirinha pobre fez estas roupas no norte.
A fome e a cooperativa fizeram-na costurar.
O amarelo das roupas agrada Carlos
A cultura disse-lhe: representa ouro
A ciência disse-lhe da importância do Sol
A arte diz que o amarelo é quente.
Carlos quer se vestir de vivaz agente.
Nem mesmo querendo, ele quer somente.
Roupas atraem Carlos.
O frio faz as roupas atraírem Carlos.
Uma costureirinha pobre fez estas roupas no norte.
A fome e a cooperativa fizeram-na costurar.
O amarelo das roupas agrada Carlos
A cultura disse-lhe: representa ouro
A ciência disse-lhe da importância do Sol
A arte diz que o amarelo é quente.
Carlos quer se vestir de vivaz agente.
Nem mesmo querendo, ele quer somente.
mal-entendido
ninguém sabe sob que pressão as palavras saem. ninguém sabe o tom, tampouco os pontos afirmam o jeito. dos sentimentos ninguém sabe aqueles que vazam e os que ficam no peito. o que interpretam e não me leva é o quanto fico insatisfeito.
segunda-feira, 7 de novembro de 2016
o cartomante - DA SÉRIE COISAS OBSCENAS
eu sou aquele cartomante
que joga as cartas na mesa
e diz que você é torpe, mesquinho,
burro, antiquado
e acrescento com pouco caso
são duzentos reais
(hUgO PeLLeRa)
domingo, 6 de novembro de 2016
quinta-feira, 3 de novembro de 2016
EU JÁ SABIA
Olha, Laura, claro que fui descendo a rua de nossa separação cabisbaixo. E se descia é porque vinha despencando do auge de alguma euforia. Na verdade pode ser que a rua subia! Estava tão em mim, nem sei lhe dizer se chovia naquele... dia? Ah, aquele momento me fez um sujeito sem cenário, pisando ideias tantas... Palco de que seria? Lembro agora, flagrando meu engano, que eu pensava que você chegaria por trás, colocaria a mão no meu ombro e me pediria pra voltar... Ia por ali por aquela rua de ir, que em certa altura ainda poderia ser a rua de um resgate. Porta batida, virá Laura atrás de mim? Cada passo me encaminhava mais ainda pro "nada valho!", aumentando a distância de ti e as impossibilidades de minhas fantasias. E as ideias tantas numa verdadeira algaravia! Pensava também que você não viria, tardava um próximo passo de ir, mas meu orgulho tornava a pisar adiante. Quiçá eu parecesse um bêbado pra quem via. Transeuntes outros, que me causassem algum pejo de existir, havia? Não sei se entrava num beco sem saída, numa rotatória, numa rodovia... Imaginei nas minhas costas você vindo, mas tive pudor, medo também, de olhar para trás e redundar uma indiferença da realidade na rua vazia. Esperava só o peso de sua mão morna em meu ombro. Ah, a rua vazia... Terei olhado e visto ou só com ouvidos na ausência dos seus passos percebia? Esta indiferença que na vida eu tão bem conhecia! Desde mais moço, quando, "praia programada", chovia! Tanto imaginei, que deixei pouca possibilidade para as surpresas. Tudo eu previa naqueles meus passos sem destino. Inventava coisas além do abandono que cada vez mais se estabelecia. De maneira que qualquer coisa que acontecesse arrancaria de mim: "Eu já sabia!" Ah, Laura, a solidão, um pouco, nos acrescenta uma quase onisciência inútil à alegria: a consciência dolorosa das possibilidades que não acontecem.
terça-feira, 1 de novembro de 2016
HOMEM SIMPLES
- A gente só precisa de um pouco de verdade, moço Deus, para saber quão mais belas são as nossas mentiras!
Quando Laura foi amada a primeira vez, é que ela descobriu ter espírito. Aquelas coisas que ela ouvia declamadas por seu amante pareciam tão mais belas do que ela mesma ante ela nua ante o espelho, que Laura começou a querer sair de si e se transformar naqueles significados. É! É assim que ela vai acabar morrendo!
tenho a impressão de que...
...quando Deus escreveu "david e golias", Ele se esqueceu de dizer que era uma obra para os pequenos.
EM CERTA ALTURA DO CAMINHO DESERTO
a moça disse assim:
- mas será a realidade isto?
eu respondi:
- mas também, o que que a gente tá fazendo atrás da verdade? vamos atrás da beleza que o caminho fica mais bonito!
- a verdade me promete um grande poder.
e eu disse com sinceridade, dando meia volta:
- então vai, feia!
- mas será a realidade isto?
eu respondi:
- mas também, o que que a gente tá fazendo atrás da verdade? vamos atrás da beleza que o caminho fica mais bonito!
- a verdade me promete um grande poder.
e eu disse com sinceridade, dando meia volta:
- então vai, feia!
Querida, fico tímido como um derrotado quando mais se faz o ânimo dos interlocutores.
Não só evito enfiar palavras apertadas em suas discussões febris, como pouco me
movimento, senão para longe. Que gritem em alto-falantes! Tenho que toda febre é sinal
de doença! Estes antagonismos entusiasmados me remetem, mais que ao passado, a
“tempo perdido”. Se moveram algo os calorosos bate-bocas “pela Verdade”, fossem de
bêbados, religiosos ou doutores em filosofia, foram meus olhos de soslaio. O que de
Verdade se procura com armas empunhadas? O que de Verdade aparece quando se
mente desde a intenção? Nada! E quem diz “Não!” faz “Sim!”, como os demais, pois tão
só quer uma Vitória na Verdade. Vitória às Vaidades! Não os vaio pelas pautas
recortadas dos jornais que evitam falarem de si mesmos, tão vergonhosos seriam sem
essas veleidades! Todos os dias algo novo para se tratar com cuidado. O mesmo
cuidado que jogou “Ontem” no lixo! Não os vaio, tampouco atiro ovos. Apenas deserdo.
Uma verdade que me tem então, mais simples, acha muito feia suas fantasias
sofisticadas. Apenas deserdo, e parece que levo todo alheio constrangimento: se me
enxergam à saída, gritam enxovalhos. Exigem ser amados. Pudera! Não lhes resta
nada, nenhum autoflagra. Eles continuam, querida, tão fingidos crentes. Já não pasmo!
Minto alguma urgência se me reparam em retirada; eu, justo eu, que por prazer vou ao
teatro. Ficaria, fosse a minha ver da humanidade este milenar e cansado espetáculo.
Sim, milênios e não perceberam, milênios mais e não perceberão, tão ocupados em seus
papéis, que a Vitória, tampouco a Verdade, pode ser só uma e objeto de posse. Antes, a
Verdade nos tem com total indiferença. Eu, justo eu que um abraço lhes daria, dei-lhes
as costas e ouvi cochicharem: “Vencemos! Aquele ficou sem palavras!”; “Correu, não
suportou tal e qual argumento!”, não retruquei; deixei estes monótonos inventarem em
meu desprezo a sua Vitória; como lhe dizia, é de Vencer qualquer coisa que carecem,
mendigam uma sensação - artificial que seja - de Vitória. Esta e/ou outra dose pouca de
verdade os mataria. Não surpreende que de nosso silêncio e de tudo que nele há dito se
vinguem em chacotas. Querida, deixe-lhes como fétidos indigentes. Entre quais se não
pode ser contente, se dê ou negue a esmola.
segunda-feira, 31 de outubro de 2016
FELIZES PARA ABACAXI!
É um tanto complicada a história do sacolão. Escolhia frutas. Bananas, maçãs.
As bananas estavam apodrecendo. As maças; gosto das durinhas. Mal maduras.
"Eu daria minha vida por uma sacola maior e você, menina. Eu te amo.
Vamos com as frutas?". Cartei milha melhor cantada, "seremos felizes
para abacaxi!" A princípio, fez pouco alho de mim. Mas ao cruzarmos o
caixa teve ciúmes moranguinhos d’eu numa caixa tão bonita.
Eu sabia que poderia apaixoná-la ouvindo "Habanera", porém os
CDS estavam todos numa mistureba dos diabos. Liguei a máquina de lavar e nos
abraçamos gostosinhos no frio da uva. Julho.
Domingos, calçávamos frouxos chinelos de dedo e ,ó!, beira do córrego. Lá
tiritávamos, tirava os chinelos e pés nas pedras geladas no fundo da corrente.
Era um mago quando as couves enverdeceram e o CD dos tenores sobre a mesa
tosca de madeira. Uma imagem de Santa Maria rogava olhos miúdos por nós
pecadores? Olhávamos saudades em fotografias: julho suspirava-nos. Amenos feito
brisa e folhas.
Ganidos no quintal: chegou coelho, nosso cão branco. Comia tortas e o que
comíamos. Corria atrás das crianças brincando. Depois que vi que era
engraçadamente torto e o rabo como lhe pesava às vezes.
Belo dia chego em casa, as luzes apagadas, ela chorando mil cebolas. Um
feijão bafejava quase toda a rua. Ela ouvia "Habanera". Pensei,
"mexerica dos “tumatis”!".
E nos reapaixonamos edredons e fronhas frescas melancias que era tempo.
Fresca de orvalhos ela me esperava branca espontânea nuvem.
Os lençóis- rosas esmaecidos -, não sei como posso tê-los reminiscências
d’ontem tão ontem mesmo; e tudo era claro. Ela discreta de mil sussurros
coniventes.
Limões que C vitaminem!
ENTRE NÓS
Para nos relacionarmos, por natureza, colocamos algo entre nós. Relacionamo-nos com copos entre nós, com Deus entre nós, com uma música entre nós, relacionamo-nos até com outras pessoas entre nós. Os objetos de interesse comum são nossa sintonia. Quando nos relacionamos diretamente um com outro, gozamos, às vezes até nos reproduzimos; isto é, se esta relação direta com outro não é um modo de interagir com um terceiro.
quarta-feira, 26 de outubro de 2016
quinta-feira, 20 de outubro de 2016
a dor de alguém.
como é difícil ser alguém!
ver o sol se pôr e se dispor ao tempo.
olha a despreocupação do alvo
no seu centro mesquinho
e a mão trêmula do arqueiro!
é mesmo triste ser alguém
em lugar de fumaça que sobe
sem se angustiar
ou pretender arte da sorte
ou temer qualquer mistura
sem zelo avaro pela forma
sem vontade que de com a cara no acaso.
ai! alguém entre construções,
à procura, permeando ruas, becos e vielas
sob o julgo de olhos, ouvidos e narizes.
sentidos vigias de mãe e de cães famintos.
olha a indiferença da garrafa
nas borbulhas que solta afogada!
como é duro ser alguém
e ter o hálito horrendo dos dias que amanhecem
postar sorrisos e cumprimentos fatídicos a alguns
indecente, remetê-los vazios de intenção.
é duro demais!
atravessar intacto críticas e trânsitos
dos que também atravessam na transversal
carregando crenças até das descrenças.
ah! vê o líquido
- cicuta ou elixir -
e o recipiente impassível ao gole.
ah! vê o descaso do crivo:
à bala perdida que venha parede
ou a carne de uma infância.
ah! vê a poesia sem ânsia de ser lida
como o livro é aos olhos que permeiam:
indiferente à página que atingem.
ai, que duro então não é ser gente:
angustiar-se na consciência da morte!
ser gente de negócio então...
programar montantes
borrando o papel com a tinta da vida
de enfileirar algarismos.
amargo! até que nos fechem em féretro
e o primeiro verme nos promova a algo.
o primeiro furo sem dor, sem pose,
sem contrações de carne, sem pudores sapiens.
sem alvoradas
não abusa mais de nós o amor:
tenor do canto dessa majestade
subjugando-nos a ninharia.
olha essa coisa corriqueira:
"a moça na janela
enquanto ela aguarda
o príncipe pelas vias atrás dela
à janela carcomida tanto faz
se ou se não por seu vão algo acontece.
aaah! que faz o remorso dos seres de atitude,
os pensamentos, as culpas...?
como é pecaminoso e doloroso ser alguém
invés de algo.
sujeito "engano" objeto.
"encontrar um sentido para vida" partem à procura, quando esteja tão claro de que se trata antes de "inventar algo em que se possa acreditar. o que implica que "o sentido" dependeria antes de um "dom de iludir-se", "enganar-se", de "poder acreditar naquilo" do que de "desvendar uma verdade". os profissionais tendem a fazer de suas profissões, para melhor aceitá-las como destino, as mais importantes do mundo, há anedotas a este respeito! não nos percamos, se me dizem "encontrar", o hálito é de quem acredita que a Verdade vai salvá-lo, que há algo encoberto que precisa ser desvelado e que é a cegueira que nos impede alguma perfeição, definição. mas não seria exatamente uma "ilusão verossímil", quiçá uma "falsa descoberta" como as religiosas, o que nos possa tornar salutares, o que nos poderá dar um sentido para a vida?
terça-feira, 18 de outubro de 2016
Almas belicosas
Há almas que se tentam fazer e encontrar como opostas a outras. Se elevam em contrapor as demais, sejam amigos, namoradas, irmãos... Arregalam os olhos para lhes encontrar algo condenável. Para achar no outro um mal, aguçam os sentidos, provocam se detendo em pequenos gestos ou pequenas palavras de um largo contexto, ainda que estas palavras sejam algo como um apêndice inútil ao fluxo principal de um discurso. Parecem almas que enxergam o mundo e a vida como uma tirania absoluta, a tirania de um Deus, tamanha, que já não podem escapar, e então querem se tornar elas mesmas almas tiranas, para que levantam a voz, e de cada conversa querem erguer a bandeira de uma superioridade. De maneira que assim as demais almas lhes parecem fazer o mesmo quando isto ou aquilo observam em sua postura. É difícil, senão impossível, ter com tais tipos uma amizade que se aproxime em sinceridade. Sua competitividade constante pela posse de uma verdade repele aqueles que compreendem que em tantas questões há apenas pontos de vista.
segunda-feira, 17 de outubro de 2016
MIRAGEM
onde a gente faz falta é miragem
“amor” eu não sei
tenha engolido no choro
no soluço
e o amor não se evacua
não se pode algo cuspido
ficou aqui dentro prisioneiro
não sei
me roendo
de que se abstrai?
vi palavras em closes
bocas carnudas
mil tesões me escalaram
cálices que brindam
vi lençóis e filhos
lágrimas me fugiram
e me comovi de não achar o amor
e talvez fosse amor isto
nem sob nem sobre a cama
de todos os dias e noites
e todos os corpos úmidos oferecidos
lambi as angústias
tateei fios
cortantes
as literaturas
mas não achava
e sacrifícios e ouvi alardearem
“desnorteia e norteia as vidas”
“amor”, o que era?
enxuguei lagos de romantismo
e devo admitir torácico e estomacal
no vão que deixa a alma que me falta:
“amor” não sei
ocorreu-me inventá-lo
por amor?
ocorreu-me versá-lo
chegaram mesmo a concordar comigo
nessas tecnologias
amor
de que se abstrai?
uma vontade louca da existência do que se ausenta
nem do cume febril “amor” não sei
foi plenamente ignorante do que seja o amor
que menti e disse que amava e que sabia o que era
era vontade de tê-lo tão convicto
feito adolescente o ressoa firme
e trêmulo a que lhe acreditem
era necessidade de me achar generoso amando
me perdoem: eu não sei e não sabia
não peço desculpa de que tenha me esquecido
chamei de amor as frustrações maiores
ou os casos mais intensos que tive
ora! foram mais intensos os mais frustrantes
e fui assim os vestindo nobremente
“amor”
mas “amor” não sei
sou incompetente!
é que sempre precisei dizer que o sabia
para não passar de ridículo
e para que por amor não me odiassem
mas não sei
confesso desertor da farsa
sim! abracei minha mãe
fui de beijos e de pegar em mãos
e agora penso
vendo quão ignorante sou e me resta ser
que dissimulava
chorei meu pai morto
e tudo aquilo até parecesse "amor"
mas eu não sabia
feito um macaco faria
capaz que amei e não sei
e diferente do macaco que só amaria ou não
despreocupado
eu nunca saiba
porque não sou nisso de amor de sabedoria
sei que caravelas chegaram ao brasil
que existiram dinossauros
mas se amei foi sem saber o que fazia
sem poder pensar duas vezes antes
completamente ignorante
não é verdade
meus amores
é só necessidade de dizer
eu nem sei se sei ou se não sei
ou se acertei no amor esta flecha de entusiasmo e agonia
se acertei no amor tudo que sou e não sei
e em tudo que o neguei espero ter errado
tenha engolido no choro
no soluço
e o amor não se evacua
não se pode algo cuspido
ficou aqui dentro prisioneiro
não sei
me roendo
de que se abstrai?
vi palavras em closes
bocas carnudas
mil tesões me escalaram
cálices que brindam
vi lençóis e filhos
lágrimas me fugiram
e me comovi de não achar o amor
e talvez fosse amor isto
nem sob nem sobre a cama
de todos os dias e noites
e todos os corpos úmidos oferecidos
lambi as angústias
tateei fios
cortantes
as literaturas
mas não achava
e sacrifícios e ouvi alardearem
“desnorteia e norteia as vidas”
“amor”, o que era?
enxuguei lagos de romantismo
e devo admitir torácico e estomacal
no vão que deixa a alma que me falta:
“amor” não sei
ocorreu-me inventá-lo
por amor?
ocorreu-me versá-lo
chegaram mesmo a concordar comigo
nessas tecnologias
amor
de que se abstrai?
uma vontade louca da existência do que se ausenta
nem do cume febril “amor” não sei
foi plenamente ignorante do que seja o amor
que menti e disse que amava e que sabia o que era
era vontade de tê-lo tão convicto
feito adolescente o ressoa firme
e trêmulo a que lhe acreditem
era necessidade de me achar generoso amando
me perdoem: eu não sei e não sabia
não peço desculpa de que tenha me esquecido
chamei de amor as frustrações maiores
ou os casos mais intensos que tive
ora! foram mais intensos os mais frustrantes
e fui assim os vestindo nobremente
“amor”
mas “amor” não sei
sou incompetente!
é que sempre precisei dizer que o sabia
para não passar de ridículo
e para que por amor não me odiassem
mas não sei
confesso desertor da farsa
sim! abracei minha mãe
fui de beijos e de pegar em mãos
e agora penso
vendo quão ignorante sou e me resta ser
que dissimulava
chorei meu pai morto
e tudo aquilo até parecesse "amor"
mas eu não sabia
feito um macaco faria
capaz que amei e não sei
e diferente do macaco que só amaria ou não
despreocupado
eu nunca saiba
porque não sou nisso de amor de sabedoria
sei que caravelas chegaram ao brasil
que existiram dinossauros
mas se amei foi sem saber o que fazia
sem poder pensar duas vezes antes
completamente ignorante
não é verdade
meus amores
é só necessidade de dizer
eu nem sei se sei ou se não sei
ou se acertei no amor esta flecha de entusiasmo e agonia
se acertei no amor tudo que sou e não sei
e em tudo que o neguei espero ter errado
quinta-feira, 13 de outubro de 2016
quarta-feira, 12 de outubro de 2016
terça-feira, 11 de outubro de 2016
escrever é uma espécie de ordem, disposição que inveja um deus. aquilo que se saiba seja muito pouco! demoramos muito tempo para saber, subimos muito alto ou cavoucamos demais para o fundo. muita terra jogada fora, restara talvez uma pepita que nos chame a atenção. o saber fica ali, no cume de um monte de esquecimento. de todos nossos atos do dia, poucos são frutos da sabedoria. dançamos conforme os buracos. escrever é uma espécie de arranjar-se. de terapia. é um jeito de lidar com tanta sujeira ideal.demorei muito tempo, tive de subir monturos, para cravar a bandeira nisto. escrever é uma espécie de ordem, não para quem procura, mas para quem se encontra perdido.
PROFESSORES DO GOSTO
Como que uma antipatia nos
redesenha um corpo! Como de relance, por uma agressão que nos cometa um
julgamento, uma figura começa a condizer com o que há de ofensivo! Uma simples
noite em que ouvimos desaforos de uma pessoa qualquer é capaz de nos provocar
pesadelos e nos tornar incapazes de ainda separar no agressor o que há de
infame e admirável, incapazes de entender o momento do outro como atenuante num
primeiro instante. Como, num segundo e terceiro instante, em que nos
encontramos mais serenos, ele, corpo e alma, ainda está atrelado ao grosseiro!
Como antipatizamos então com a distância da orelha ao queixo, da cor de pele, da
cor de cabelo, da extensão de uma boca, do contorno dos lábios, do sorriso, do
caminhar, das roupas últimas em que o lembramos, dos seus assuntos prediletos!
Como queremos nos afastar do alcance de suas mãos, como distar dele se torna
nosso prazer... Ele agora é reinterpretado por nossa sisudez, nosso rigor e
impaciência. Se havia um traço dele que poderíamos julgar feio, algo que a
amizade ou um bom afeto insistia em ignorar ou mesmo atribuir graça de originalidade, o traço
então nos apareça torto e indesculpável, tudo nele se perde, tudo se torna grotesco.
O defeito no agressor se torna um merecimento, e um mal de que padeça nos evoca a gritar “Justiça!”. De maneira que, nossos agressores, ou nossos inimigos, ou
adversários têm o poder de moldar o nosso gosto. Nossa definição do que é belo
é o que ele não alcança, nossa definição do que é feio é o que se lhe assemelha.
Assim também nossos mais queridos nos ensinem o que é beleza.
quarta-feira, 5 de outubro de 2016
terça-feira, 4 de outubro de 2016
por que escrevo?
retirando minha obra, sou extremamente desnecessário. erguida minha obra, torno-me apenas inútil.
amigo dos amantes
por vezes olho para os amantes - com verves exaltadas, embriagados de paixão - com admiração. sou feliz pela felicidade deles, que é uma felicidade possível do mundo, que é o sorriso do outro, um significado de forma de paz e entendimento humano. sei que um homem saciado é menos nocivo. mas vendo-os assim, do chão, tão tãos... não tenho a menor vontade de entrar na fila da montanha russa em que vão.
segunda-feira, 3 de outubro de 2016
sobre a casa pequena você tem que falar no primeiro dia em que você sai da casa grande. a casa pequena quase que só cabe o que tem em nossas almas. o quanto de espaço amplia uma sala, o nosso amor? e o quanto um mesmo afeto a diminui? uma casa pequena é cheia de coisas quando em contraste com uma casa grande, ou seja, quando se sabe o que é uma casa pequena. uma casa pequena é fumar um cigarro beirando a chuva porque sua mãe de 1933, na sala, não aceita o seu vício de apenas vinte três anos de idade. uma casa pequena, se tiver jardim, é só um vaso procurando o ângulo de luz de uma janela. mas a casa pequena mesmo é aquela em que só cabe a gente. a maior casa em que morei era a casa em que se esperava meu pai voltar do trabalho. a casa mais triste é grande como um deserto em que não há quem entenda sua vida como uma poesia. mas isto é só a voz de uma nostalgia. e a vida é muito mais do que sentir falta.
terça-feira, 27 de setembro de 2016
GRANDEZAS DIRETAMENTE PROPORCIONAIS
para diminuir a dor é preciso diminuir o prazer na outra ponta do chicote.
sou um homem jungido nas horas, vou arrastando-as, nem sempre por gosto, às vezes por receio do chicote... e sempre girando com pernas de ponteiro, machucando meus pés nesses números. giro, um boi, o engenho louco de me vingar com açúcar. vingar-me dessas horas circulares e... concomitantes: sinto no cálcio dos risos o sal do suor e da lágrima. a necessidade arranca da folga os dentes de rir para que mastiguem. por necessidade, indistinguíveis, engulo tudo... suor, sangue, riso: produtos acabados, desembalados. quase ouroboros, engulo esse tanto de agora cumulado de antes e doravantes.
para nós mesmos
o pior não é ser burro. o pior é ser inteligente a ponto de às vezes se sentir burro, já que o burro mesmo não desconfia.
O problema com essas tecnologias de relação à distância é que reencontramos velhos amigos. E o que resta é apenas o silêncio da velhice. Sem objetos entre nós, não resta nada. Porque não nos interessamos. É por isso que os homens se encontram no bar e colocam entre si copos e mais copos de cerveja e quando não aguentam mais beber eles precisam ir embora.
segunda-feira, 26 de setembro de 2016
NATURAL
por mais louco que tudo pareça no passo do progresso em que vamos, nas coisas que são ditas e aplaudidas.... tudo ainda faz o mesmo e velho sentido que fez a natureza. por mais que se contradiga o natural com a moral, ainda somos bichos. e nossa moral uma sofisticação do rosnado inibidor de um bicho.
terça-feira, 20 de setembro de 2016
O SUJEITO E A BURRICE
e tem aquela outra idade em qual não morrer daqui a pouco é sempre burrice, até que a morte os separe.
Assinar:
Postagens (Atom)