terça-feira, 2 de dezembro de 2014

um inseto pousa na tela e é melhor que minha ideia, mas o inseto não aceita meu toque, minhas verdades ou minhas mentiras... por isso vão letras... baratas! o inseto é completo, penso ao esmagá-lo. é um tipo de felicidade covarde ao terminar os voos possíveis de outro. felicidade distante, mesquinha, aprendida na vida! como negar?... não é um voo humano possível? mas quem peca assim, tão superior e assemelhado a um deus? estamos sempre matando algo melhor e deixando a parca anotação do que era aquilo.

é sempre menos inocente do que se projeta aquele que diz: "por essa eu não esperava!"

pareidolia - para não se sentir sozinho, tantas vezes é preciso ver amigos em nuvens. ai daquele que já não puder este engano!

ENTRE MÁQUINAS - a minha maior arte, toda minha aptidão agora é para, complexamente, manter-me gente. é difícil da estética à psicologia! há muitas coisas para quais me repito cotidianamente. há muitos clientes para sorrisos em série. que fazer? a gente faz parte do seriado.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

ENCARGO

chova, faça sol, subam homens em palanques, flutuem com ou sem asas e auréolas, coloquem meu pescoço sob a lâmina, viagem ainda mais longe no espaço, inventem algo superior à luz... desça um outro dos céus, ressuscite-me ou me transforme num frango... que eu me disfarce insinuando humildades e ainda que eu seja concomitantemente meu próprio diabo massacrando a mim mesmo e a minha imagem, continuarei sendo meu deus! confesse-me, serei eu meu deus... árduo, duro, doador, amável, enrugado, com ou sem glória ou adoração... não há escolha, não são necessárias manchetes de jornal, eleições... tirania total, absoluta! é comigo mesmo, e nem mesmo um púlpito para isto!

"Se os ternos morressem, quanto de falsidade restaria?" - Perguntou-me isto e, em seguida, gritou "Viva a hipocrisia!"

terça-feira, 25 de novembro de 2014

o que se remete é uma coisa de esperança difícil, restrita. em escrever se não excluem somente os analfabetos. algo se procura. algo quer se construir e quiçá virar alguém. há um processo de fazer para um leitor. é o processo do sucesso. e há um processo de construção do leitor, sem rótulos, sem gênero e para além do bem e do mal!

domingo, 16 de novembro de 2014

imagine a costela
o em torno por dentro
como um copo
raspá-la da carne com uma espátula
até o branco dos ossos
a coluna, pense
espessa, os humores, líquidos...
como caldos de comida

a medula espinhal passeada de larvas
a esfera dos olhos recheada delas
imagine  o que imagina agora
como posse dos vermes
ditosos, donos, gordos... sem ossos
no chão
dentro de seu caixão alguns dias descido
depois de uma pontada no peito
esticada no rosto roxo
e a queda na sala sem respeito aos utensílios
a dor até o fim

como você não quis imaginar
e com muito mais medo do que quando o fez
as veias dilatadas de pânico

pense bem!
pois é isto o mais certo amanhã
que se pode imaginar:

quando nem mais ossos
muito antes
nem mais você

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

domingo, 5 de outubro de 2014

e aquelas meninas, hein, parceiro? lembra a carne assada da adriana? tanguá, terra perdida. ninguém sabe de tanguá além de lá! o viaduto da br. a ruinha de terra das meninas. é, parceiro... você lembra?, agora que nem você está aqui, que a maior parte do tempo somos, um do outro, esquecimento, lembra? tornou-se insossa e inodora a carne assada da adriana!

sábado, 4 de outubro de 2014



I

é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha
do que o homem caber no agora.


II

sobra sempre uns braços pra fora do invólucro
voltados para trás
e um nariz com pernas que inventam "pra frente"
deus se enrolou em embrulhar o homem
em seu papel de presente.

III

e
.
se
.
fizermos
.
o
.
ser
.
ser
.
mais
.
lento
.
até
.
que
.
ele
.
colida
.
com
.
o
.
momento
?
trago no peito muito obrigado
uma angústia de nada

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

e aquelas meninas, hein, parceiro? lembra a carne assada da adriana? tanguá, terra perdida. ninguém sabe de tanguá além de lá! o viaduto da br. a ruinha de terra das meninas. é, parceiro... você lembra?, agora que nem você está aqui, que a maior parte do tempo somos, um do outro, esquecimento? lembra? tornou-se insossa e inodora a carne assada da adriana!

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

domingo, 21 de setembro de 2014



se a política está em tudo

não deixo de fazê-la agora




se a política está em tudo

cuidado com quem o abraça




e pergunte se isto aqui

não é corrupção!

https://www.instagram.com/reel/COsaQeyn8uX/?utm_medium=copy_link

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

AMIZADE:


_pô, Jadson, você é um cara simpático e amigo. só tem que parar de espancar sua mulher.

_ela anda saindo de casa é? deixa ela comigo!

_anda, sim, e com cada vestido, meu amigo, que parece um filme de nelson rodrigues!

(hUGO pELLERA)
Carne de Pescoço trabalhava do outro lado da rua.Era como o chamávamos, por causa do seu pescoço duro, torto pro lado, que fazia ele parecer beijinho no ombro. Carne de pescoço tinha um bar e um bigode já com fios grisalhos. Ele tinha muita graça atendendo a pedidos. Era melhor tomar cerveja no Carne!

sábado, 6 de setembro de 2014

aquela implicância que a minha velha tinha com meu cigarro acabou fechando a porta da cozinha. a minha velha é mais que modo de dizer. é velha mesmo! (você sabe o que é "mesmo"?). a minha velha no meio de uma loucura, a vista operada de catarata, recém adoecida de ver o mundo, a doença trocada por outra, uma película, por outra película. com aqueles olhos ela achou o dinheiro de me dar para comprar o cigarro. porque eu estava louco o suficiente para pedir dinheiro a ela pra isso. ela me deu. e fomos eu e meu amigo lino, sujeito que sabe ser amigo de loucos, comprar cigarros na padaria flor da cidade. mas depois para ela eu parei. só para ela eu parei. isso deve ser amor. penso nisso fumando um cigarro, com a porta da cozinha trancada porque ela mora no quarto. ela, a minha velha. aquela implicância com meu câncer, mãe... fechou a porta da cozinha, enquanto ainda somos saudáveis, apenas pelo possível. só pelo possível. fechou. e agora eu confundo a senhora com o vento que entra pela janela e faz a porta confessar sua folga no batente (de mágoas?), origem do tempo ou de um mau serviço de carpintaria... aquela folga. como se eu escrevesse mal em lugar de mau. maus trocados, aquela folga! dois trabalhadores importantes. ambos roem as madeiras. carpintaria? ou seria marcenaria? sempre confundo esses dois. acho que o homem mais bruto é o carpinteiro. as mulheres devem gostar mais deles. as mulheres, mais desenxabidas. isso é uma prece: "como confundo, mãe, a senhora agora com o vento que sacoleja a porta. tem cabimento confundir seu toc-toc de sherlock com o manejar das brisas?" hein, vento - você que me amamentou e que antes me esperou nove meses na sua barriga, me diga, tem cabimento? não foi você, vento, que me entregou a festas juninas no externato hilmar e um dia me deu dinheiro para comprar uns cigarros? foi logo depois do vento ter sido operado de catarata. agora ele sabe! sabe muito bem! porque enxerga direitinho, apesar dos oitenta e um anos de idade! e hoje eu não sei se abro a porta ou acendo outro cigarro!

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

SEPARAÇÃO







a minha memória tem pinceladas de tristeza. como ter ficado só com a mesa. essa mania da minha lembrança. de todos os móveis que tínhamos e algumas coisas outras tecnológicas, que gelavam e aqueciam alimentos, como o DVD do Woody, por exemplo! E a voz de Angela Ro Ro!, "depois disso tudo, eu ficar só com a mesa amarela com a risca larga branca, grossa no meio!" - é de expressar indignado mesmo, sem dúvida! a mesa... só porque foi a penúltima coisa, antes da porta, que eu olhei daquela nossa casa. aliás, "nossa" eu já não vejo há muito tempo, coisa alguma que seja "nossa". eu lembro da mesa, porque foi lá que você se despiu, cheia de mãos, mãos que tinha para me acertar a cara e não usava de desleixo. aquelas mãos enfim, foi porque escreveram elas mesmas, o bilhete e, elas mesmas, depositaram, sobre a faixa branca aliás, larga. no meio da mesa. entremeando migalhas de pão que seus dedos amassaram. o bilhete. a última coisa que eu lembro. a minha lembrança tem maus costumes, manias feias. eu até não confio em mim, por conta dela. mas a mesa era amarela, ela se agarra à lembrança, a lembrança se agarra nela. amantes perfeitos invejariam de que jeito isso se dá. esses dias quase fez uma canção com duas coisas: você e a mesa. canção que se deteve só numa rima. escapou de arrebentar nas rádios, ao menos as que poderíamos sintonizar. "ela, amarela!" - era o verso latejante e miserável, arrastando-se na minha cabeça locada pelo passado. "isso ninguém me tira!" - diz a memória, que tem manias e continua dizendo, pedindo desculpas: "só não lembro, além de adeus, o que mais dizia o bilhete contrastando seu caráter tarja-preta sobre a faixa-branca da mesa amarela. depois disso tudo, "a mesa de nossos encontros matinais (é de se expressar indignado mesmo!) ser só lembrança?!" se dar a desbotar de existência. é duro, querida. aliás, "querida" é falta de upgrade no meu sistema.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

MAJESTADE

junte todas as suas dores, físicas e anímicas... como pedras, pérolas, as que mais brilham em sua memória... vamos!, aquele diamante... não ignore! faça uma joia! a vida passeia por aí enfeitada com essa coisinha, orgulhosa, num casual braço esquerdo... e quando achamos que já passou por muito, veja!, ela sacode a pulseirinha num chacoalhar de dar engulho, remexe-nos em náuseas. vaidosa, ela quer um cordão e um par de brincos, de pedras duras, escuras, engastadas em olhares alheios... que combinem com seu vestido, que façam inveja aos mais tristes. "essa moça casou comigo", diga! "eu casei com essa..." a ela devo tudo, "talvez convenha chamá-la de alteza". e ela só se ajoelha para receber a morte, e haverá de recebê-la como a coroa que lhe falta na cabeça.
Eu e a menina começamos a ter a linguagem do sofrimento. Só falávamos quando estávamos tristes. Quanto mais tristes melhor. Mais digno de resposta. Mais bonito. Embora, às vezes, nojento. Eu precisava ter uma cãibra pra ligar. Ela precisava ter um câncer pra atender. Nossa amizade foi ficando um bolo de coisas tristes: angústias, minha mãe cagando pela casa; doenças na família, covardias violentas... Não havia sexo, não havia palhaçada, porque éramos velhos. Tínhamos ficado velhos de surpresa. E sabíamos através de nossas cartas, tristes, molhadas, velhas, que éramos.